10 fevereiro, 2016

A pronúncia do “Aedes aegypti”


Aedes aegypti 

O mosquito da dengue é um velho conhecido dos brasileiros, desde os tempos em que seu portifólio de doenças era restrito apenas à dengue e à febre amarela. Seu nome científico, contudo, gera algumas dúvidas tanto na grafia complicada quanto na pronúncia. A grafia correta é "Aedes aegypti" (com "A" maiúsculo no primeiro nome e “a” minúsculo no segundo, como determina a nomenclatura taxonômica). Quanto à pronúncia, sempre houve a preferência em se dizer /aédis/ /egípti/. Ocorre que, recentemente, a mídia tem preferido dizer /édis/ /egípti/. O que terá acontecido com o primeiro “a”?

Para explicar isso, é preciso ter em mente que a mídia está “tentando” falar corretamente ao buscar a pronúncia latina do nome, uma vez que os nomes científicos são formados em latim ou são latinizados. Assim, como em latim o grafema æ (a+e) tradicionalmente se pronuncia "e" (aberto, como em “taenia solium”), passaram a pronunciar /édis/ da mesma forma como sempre fizeram com o /egípti/, só que, acredito eu, de maneira inadequada.

Mas qual é o problema? O erro é presumir que o nome "Aedes aegypti" seja inteiramente de origem latina. Ainda que se trate de um nome “latinizado, não é inteiramente latino. Se fosse, não haveria problema em dizer-se /édis/ /egípti/.

O nome científico do mosquito tem uma parte latina, “aegypti”, que significa “do Egito” e se pronuncia mesmo /egípti/. Porém, a primeira parte dele não vem do latino “aedes” – que significaria “casa” –, mas sim deriva do grego “edus”, que significa “doce”, “agradável”.

Assim, a parte de origem grega, “Aedes”, significa “desagradável”, “odioso”, “nojento” e, diversamente do latim, tem o “a” pronunciado claramente é até habitual marcar o “e” com um traço ou trema: Aëdes. Esse “a” do “Aedes” é um prefixo grego que dá ideia de negação – como acontece em “amoral”, “ateu” ou “afônico”. A pronúncia que destaca o “a” do “e” deixa clara essa negação. Se esse “a” não for pronunciado, o que seria “desagradável” passa a ser “agradável”, e tal adjetivo não pode ser aplicado a esse inseto. Da mesma forma, se quisermos nos ater ao latim, ao dizer /édis/, o mosquito deixa de ser o “odioso do Egito” e se transforma em algo como “casa do Egito”.

Se esses argumentos não são suficientes, podemos recorrer ao próprio latim para abonar a pronúncia /aédis/. É que, se no latim científico baseado na pronúncia tradicional medieval dizemos "e" para o grafema "ae", o mesmo não ocorre com a pronúncia restaurada do latim clássico o latim dos tempos de Cícero e Virgílio , em que se pronuncia /aédis/.

Dessa forma, creio que a grande maioria da mídia tem sido infeliz ao fazer essa “correção”, pois me parece mais adequado pronunciar /aédis/ /egípti/, como todos faziam antes.