(Tirinha do alucinado Rafael Sica)
A imagem é muito conhecida: você está estudando ou produzindo algum trabalho intelectual e, de repente, uma mosca se torna a coisa mais interessante do mundo. Em vez da mosca, poderia ser outra coisa qualquer, pois essa dispersão não ocorre em razão da relevância daquilo que chamou a sua atenção, mas pelo desejo irresistível de procrastinar.
Quem nunca adiou alguma coisa importante e urgente? Excluídos aqueles disciplinados de plantão (o que seria do mundo sem eles?), todos já dançaram a dança da procrastinação ao menos uma vez na vida, sem prejuízo de sua reputação de responsável.
No entanto, afora os certinhos inveterados e os procrastinadores eventuais, há um seleto grupo de pessoas (e eu quero crer que seu número seja maior do que imagino) que não perdem uma oportunidade para realizar um solene adiamento. Nessas pessoas, o desejo de postergar já nasce junto com o dever de cumprir uma obrigação difícil (que graça há em protelar coisas fáceis?).
A delonga é uma obra de arte, convenhamos. Deixar de fazer algo difícil, embora necessário, faz nascer uma culpa imensa que só alguém com jogo de cintura suporta carregar. A fim de driblar essa culpa, qualquer ferramenta disponível é útil. Fazer uma coisa menos importante, por exemplo, garante algum alívio imediato.
Eu que o diga! Quase não vejo televisão, mas basta surgir algo importante com prazo curto e lá vou eu ser o mais devoto telespectador (isso inclui a intragável programação de domingo, fruto de um consenso universal a favor do mau gosto). Outras coisas também ajudam na procrastinação, como uma pia transbordando de pratos para lavar, um guarda-roupa fora de ordem (um pouquinho que seja) ou, em último caso, algo que você já adiou antes, mas que é menos trabalhoso, menos urgente e menos importante.
Ocorre que a coisa deixada de lado o acompanha o dia inteiro, para onde quer que você vá. Era só uma coisa importante que você deveria fazer, mas agora passa ao status de um conviva inconveniente e desagradável, que só vai embora quando é posto para fora. Esse mal, infelizmente, só se cura com a efetiva realização do trabalho preterido. Ah!, se houvesse um remédio mais barato...
PS: Este texto foi escrito num momento em que outra coisa mais importante deveria ter sido feita
A imagem é muito conhecida: você está estudando ou produzindo algum trabalho intelectual e, de repente, uma mosca se torna a coisa mais interessante do mundo. Em vez da mosca, poderia ser outra coisa qualquer, pois essa dispersão não ocorre em razão da relevância daquilo que chamou a sua atenção, mas pelo desejo irresistível de procrastinar.
Quem nunca adiou alguma coisa importante e urgente? Excluídos aqueles disciplinados de plantão (o que seria do mundo sem eles?), todos já dançaram a dança da procrastinação ao menos uma vez na vida, sem prejuízo de sua reputação de responsável.
No entanto, afora os certinhos inveterados e os procrastinadores eventuais, há um seleto grupo de pessoas (e eu quero crer que seu número seja maior do que imagino) que não perdem uma oportunidade para realizar um solene adiamento. Nessas pessoas, o desejo de postergar já nasce junto com o dever de cumprir uma obrigação difícil (que graça há em protelar coisas fáceis?).
A delonga é uma obra de arte, convenhamos. Deixar de fazer algo difícil, embora necessário, faz nascer uma culpa imensa que só alguém com jogo de cintura suporta carregar. A fim de driblar essa culpa, qualquer ferramenta disponível é útil. Fazer uma coisa menos importante, por exemplo, garante algum alívio imediato.
Eu que o diga! Quase não vejo televisão, mas basta surgir algo importante com prazo curto e lá vou eu ser o mais devoto telespectador (isso inclui a intragável programação de domingo, fruto de um consenso universal a favor do mau gosto). Outras coisas também ajudam na procrastinação, como uma pia transbordando de pratos para lavar, um guarda-roupa fora de ordem (um pouquinho que seja) ou, em último caso, algo que você já adiou antes, mas que é menos trabalhoso, menos urgente e menos importante.
Ocorre que a coisa deixada de lado o acompanha o dia inteiro, para onde quer que você vá. Era só uma coisa importante que você deveria fazer, mas agora passa ao status de um conviva inconveniente e desagradável, que só vai embora quando é posto para fora. Esse mal, infelizmente, só se cura com a efetiva realização do trabalho preterido. Ah!, se houvesse um remédio mais barato...
PS: Este texto foi escrito num momento em que outra coisa mais importante deveria ter sido feita