29 maio, 2009

Os livros que não li


Estamos numa corrida contra o tempo. No fim da vida, uma pessoa não terá lido boa parte das melhores obras literárias que a humanidade já produziu. É uma tarefa humanamente impossível. E não estou nem considerando os livros que relemos e as obras científicas ou filosóficas, que também são obrigatórias.

É com tristeza que avalio minha parca leitura: dois ou três livros literários por ano – às vezes menos – é uma estatística vergonhosa. (Foi-se o tempo em que eu lia um após outro, ou até dois ao mesmo tempo) Mas pelo menos procurei ler os livros certos, o que não deixa de ser também um problema, tanto pela dificuldade de seleção quanto pela efetiva leitura.

Parece um sacrilégio me entregar ao deleite de ler Dan Brown* enquanto meu exemplar de Dom Quixote cria mofo na estante – a história do engenhoso fidalgo de La Mancha foi o título que eu por mais vezes tentei ler. Da mesma forma, parece imoral folhear Paulo Coelho sem nunca ter aberto Guerra e Paz ou espiado ao menos o Inferno d'A Divina Comédia.

Não se trata de preconceito, mas de prioridade. Dado que o tempo é escasso diante da infinidade de livros, não resta alternativa senão ignorar as obras menos importantes para ler as que realmente importam.

Mas aí você vislumbra a espessura de Os Sertões, ou tropeça numa má tradução de Dostoiévski, e acaba adiando a leitura indefinidamente, por um tempo que daria para ter lido toda a obra de Paulo Coelho.

Desse modo, não sei qual é a situação pior: não saber quais são os livros que se devem ler, ou ter a assustadora idéia do que se está perdendo.

PS1: Eu li O Código Da Vinci, de Dan Brown, que tem uma ótima leitura, mas péssima literatura.
PS2: Já sei que nunca lerei A Divina Comédia, Os Sertões, Os Lusíadas ou Guerra e Paz, pois tenho outras prioridades. Mas ainda tenho esperanças no Quixote.


26 maio, 2009

Catálogo # 1

Você que só vai à locadora de filmes atrás dos mais recentes lançamentos, lembre-se de que a juventude da obra não é garantia nenhuma de se sua qualidade cinematográfica (às vezes, é justamente o contrário). Todos os anos a indústria do cinema põe no mercado uma quantidade incontável de filmes, descartáveis em sua grande maioria.

Na seção de catálogos das locadoras há muitos títulos que ainda dão um bom caldo, apesar de não terem sido produzidos na última semana. Nem estou considerando os clássicos antigos; falo mesmo de filmes até certo ponto atuais, mas que juntam poeira nas estantes porque a maioria das pessoas torce o nariz para qualquer coisa que não seja do ano (por exemplo, não acho que Provocação, um filme de 2004, seja velho, mas você já não o encontra em todas as casas do ramo).

Então deixe para ver os filmes novos no cinema (que é o lugar certo para isso) e dê uma chance aos filmes menos recentes. A intenção desta série é indicar filmes realmente bons que agradem um número maior de pessoas (não apenas os que apreciam filmes de arte).

Hoje eu inicio a seção “Catálogo” sugerindo um filme completamente pra cima. Lançado em 2003, Albergue Espanhol conta a trajetória de Xavier, um jovem francês que, a fim de concluir os seus estudos, parte para a Espanha onde vai residir numa república junto com outros estudantes de diferentes nacionalidades.

O filme acompanha o crescimento pessoal desse jovem num país estrangeiro, enquanto aborda temas interessantes como as diferenças culturais, o preconceito de nacionalidade (isso fica por conta do estudante inglês) e o valor da amizade (os personagens interagem com muita cumplicidade). O resultado é um filme leve e envolvente, cheio de alegria, vivacidade e diversão.

Se ainda não viu, experimente!

PS: Audrey Tautou ( de Amélie Poulain) está no elenco junto com seus grandes olhos negros.

06 maio, 2009

O esfomeado, o gato e as galinhas

Saiu no telejornal:

Uma heroína salvou um gato da morte. O bichano iria ser devorado por um homem pobre e faminto, quando a corajosa mulher ofereceu ao esfomeado duas galinhas em troca do felino. Ele aceitou, matou as galinhas e fez um guisado que lhe encheu a pança por dias.

O fato de isso ser “notícia” na TV só conduz a duas conclusões: (a) a vida de um gato vale mais do que a de duas galinhas; e (b) para que a fome de um humano seja lembrada (ao menos superficialmente), é necessária uma situação pitoresca como essa.