30 julho, 2009

Catálogo #3

“João que amava Maria, que amava José, que amava Antônio, que amava Ana, que amava Totó e Rex.” Exceto pela parte final da frase (eu não poderia deixar passar!), é essa a história do ousado Regras da atração (The rules of attraction, 2002, 110 min. Direção e roteiro de Roger Avary. Com: James Van Der Beek, Shannyn Sossamon e Ian Sommerhalder).

Baseado no livro do escritor Brett Easton Ellis (autor de Psicopata Americano, também adaptado para o cinema e altamente recomendado), o filme tem um enredo que, apesar de satirizar costumes com uma acidez corrosiva, se revela também bastante realístico ao retratar com fidelidade e honestidade seus personagens e suas atitudes. Estes não são pintados de maneira estereotipada nem têm seus defeitos amenizados, o que é uma grata surpresa para um filme vendido como “comédia dramática”.

A história se passa num campus universitário, onde estudam Sean, Lauren e Paul. Sean Bateman (James Van Der Beek, bem distante de Dawson’s Creek), ganha uns trocados extras vendendo drogas para os burgueses de sua faculdade, enquanto tenta evadir-se da dívida com seu irascível fornecedor. Ele passa a receber bilhetes de amor anônimos e logo imagina que estes vêm de Lauren Hynde (Shannyn Sossamon), por quem se apaixona rapidamente. Lauren se sente atraída por Sean, sim, mas fantasia perder a virgindade com seu suposto namorado quando este chegar de sua viagem à Europa. Quem acaba apaixonado por Sean mesmo é Paul Denton (Ian Somerhalder), um homossexual que não vem tendo muita sorte em suas conquistas.

“Um filme de arte para adolescentes”, é assim que o diretor Roger Avary (co-roteirista de Pulp Fiction, ao lado de Quentin Tarantino) define seu longa. A frase é muito feliz, pois tanto se trata de um filme de alta qualidade artística, quanto pode ser visto sem muitas reclamações pelos adolescentes (embora eu acredite que seja mais bem aproveitado por adultos).

Para ver o trailer, clique aqui (requer Real Player)

Por que você deve ver:
O filme conta com um roteiro mordaz e inteligente, com ótimas atuações e com a direção inventiva e vivaz de Roger Avary, que cria um longa visualmente rico e muito distante do convencional.
Por que você pode não gostar:
O filme trata de sexualidade e de desencontros nos relacionamentos. Por isso, é menos uma história de sucessos e mais um libelo sobre tentativas e fracassos. Além do mais, cenas de sexo podem repelir os mais pudicos, embora isso seja pouco relevante. Finalmente, embora a montagem seja um dos pontos altos do filme, ela pode deixar confusos os menos atentos.
Veja com atenção: a estrutura criativa das cenas e, em particular, uma sofisticada movimentação de câmera que acompanha Sean e Louren em telas divididas, para fundir as imagens em seguida.

Se ainda não viu, experimente!

29 julho, 2009

Música do dia

A poderosa música de B. B. King, o "Blues Boy King":

http://www.youtube.com/watch?v=Qtm66Z3lebc

The thrill is gone
A emoção se foi


The thrill is gone
A emoção se foi
The thrill is gone away
A emoção foi embora
The thrill is gone baby
A emoção se foi, baby
The thrill is gone away
A emoção foi embora
You know you done me wrong baby
Você sabe que me faz mal, baby
And youll be sorry someday
E você sentirá muito algum dia

The thrill is gone
A emoção se foi
Its gone away from me
Foi embora de mim
The thrill is gone baby
A emoção se foi, baby
The thrill is gone away from me
A emoção foi embora de mim
Although, Ill still live on
Eu ainda viverei
But so lonely Ill be
Mas tão solitário serei

The thrill is gone
A emoção se foi
Its gone away for good
Foi embora para o bem
The thrill is gone baby
A emoção se foi, baby
Its gone away for good
Foi embora para o bem
Someday I know Ill be open armed baby
Algum dia eu sei que eu estarei de braços abertos
Just like I know a good man should
Assim como um bom homem deveria estar

You know Im free, free now baby
Você sabe que eu estou livre, livre agora, baby
Im free from your spell
Eu estou livre de seu feitiço
Oh Im free, free, free now
Oh, eu estou livre, livre, livre agora
Im free from your spell
Eu estou livre de seu feitiço
And now that its all over
E agora está tudo acabado
All I can do is wish you well
Tudo que eu posso fazer é desejar o seu bem

15 julho, 2009

Mau Gosto #2

Quando postei sobre "mau gosto", eu suspeitei que isso poderia virar outra categoria do blog, já que exemplares do gênero não faltam (assim como as mentes grandiosas que os criam).

Veja que excelente designer concebeu essa pérola para um restaurante japonês:












Eu já não gosto de comida japonesa, com um logotipo desses então, não passo nem na porta!
(O problema nem é com o "sol" vermelho, mas com a "casa" amarela, se é que vocês me entendem...)

08 julho, 2009

Aspas #1

Hoje eu inauguro aqui a seção “Aspas”, na qual trarei textos que considero bons e cujos autores invejo por não os ter escrito. Já que Deus não me agraciou com o dom de escrever como eles, ao menos me deu a capacidade de perceber suas qualidades.

Os maledicentes podem achar que eu criei essa seção para me livrar do fardo de produzir textos novos, bastando escolher e colar o texto dos outros. Mas os meus amigos, os que realmente me conhecem... Bem, eles terão certeza disso!

Começo com um belo texto de Rubem Alves.


Deus existe?


De vez em quando alguém me pergunta se eu acredito em Deus. E eu fico mudo, sem dar resposta, porque qualquer resposta que desse seria mal entendida. O problema está nesse verbo simples, cujo sentido todo mundo pensa entender: acreditar. Mesmo sem estar vendo, eu acredito que existe uma montanha chamada Himalaia, e acredito na estrela Alfa Centauro, e acredito que dentro do armário há uma réstia de cebolas... Se eu respondesse à pergunta dizendo que acredito em Deus, eu o estaria colocando no mesmo rol em que estão a montanha, a estrela, a cebola, uma coisa entre outras, não importando que seja a maior de todas.

Era assim que Casemiro de Abreu acreditava em Deus, e todo mundo decorou e recitou o seu poema teológico: Eu me lembro... Era pequeno... O mar bramia, e erguendo o dorso altivo sacudia a branca espuma para o céu sereno. E eu disse à minha mãe naquele instante: “Que dura orquestra! Que furor insano! Que pode haver maior que o oceano ou mais forte que o vento?” Minha mãe a sorrir olhou para os céus e respondeu: “Um Ser que nós não vemos! E maior que o mar que nós tememos, é mais forte que o tufão, meu filho: é Deus!”

Ritmos e rimas são perigosos porque, com freqüência, nos levam a misturar razões ruins com música ruim. Deixados de lado o ritmo e as rimas, o argumento do poeta se reduz a isso: Deus é uma “coisona” que sopra qual ventania enorme, e um marzão que dá muito mais medo que esse mar que está ai. Ora, admito até que coisona tal possa existir. Mas não há argumento que me faça amá-la. Pelo contrário, o que realmente desejo é vê-la bem longe de mim! Quem é que gostaria de viver no meio da ventania navegando num mar terrível? Eu não...

É preciso, de uma vez por todas, compreender que acreditar em Deus não vale um tostão furado. Não, não fiquem bravos comigo. Fiquem bravos com o apóstolo Tiago, que deixou escrito em sua epístola sagrada: Tu acreditas que há um Deus. Fazes muito bem. Os demônios também acreditam. E estremecem ao ouvir o Seu nome... (Tiago 2,19). Em resumo, o apóstolo está dizendo que os demônios estão melhor do que nós porque, além de acreditar, estremecem... Você estremece ao ouvir o nome de Deus? Duvido. Se estremecesse, não o repetiria tanto, por medo de contrair malária...

Enquanto escrevo, estou ouvindo a Sonata Appassionata, de Beethoven, a mesma que Lenin poderia ouvir o dia inteiro, sem se cansar, e o seu efeito era tal que ele tinha medo de ser magicamente transformado em alegria e amor, sentimentos incompatíveis com as necessidades revolucionárias (o que explica as razões por que ativistas políticos geralmente não se dão bem com música clássica). Se eu pudesse conversar com o meu cachorro e lhe perguntasse: Você acredita na “Appassionata”? – ele me responderia: Pois é claro. Acha que eu sou surdo? Estou ouvindo. E, por sinal, esse barulho está perturbando o meu sono.

Mas eu, ao contrário do meu cachorro, tive vontade de chorar por causa da beleza. A beleza tomou conta do meu corpo, que ficou arrepiado: a beleza se fez carne.

Mas eu sei que a sonata tem uma existência efêmera. Dentro de poucos minutos só haverá o silêncio. Ela viverá em mim como memória. Assim é a forma de existência dos objetos de amor: não como a montanha, a estrela, a cebola, mas como saudade. E eu, então, pensarei que é preciso tomar providências para que a sonata ressuscite de sua morte...

Leio e releio os poemas de Cecília Meireles. Por que releio, se já os li? Por que releio, se sei, de cor, as palavras que vou ler? Porque a alma não se cansa da beleza. Beleza é aquilo que faz o corpo tremer. Há cenas que ela descrever que, eu sei, existirão eternamente. Ou, inversamente, porque existiam eternamente, ela as escreveu. O crepúsculo é este sossego do céu / com suas nuvens paralelas / e uma última cor penetrando nas árvores / até os pássaros. / E esta curva de pombos, rente aos telhados, / e este cantar de galos e rolas, muito longe; / e, mais longe, o abrolhar de estrelas brancas, / ainda servi luz.

Que existência frágil tem um poema, mais frágil que a montanha, a estrela, a cebola. Poemas são meras palavras, que dependem de que alguém as escreva, leia, recite. No entanto, as palavras fazem com o meu corpo aquilo que universo inteiro não pode fazer.

Fui jantar com um rico empresário, que acredita em Deus, mas me disse não compreender as razões por que puseram o retrato da Cecília Meireles, uma mulher velha e feia, numa cédula do nosso dinheiro. Melhor teria sido retrato da Xuxa. Do ponto de vista da existência ele estava certo. A Xuxa tem mais realidade que a Cecília. Ela tem uma densidade imagética e monetária que a Cecília não tem e nunca quis ter. A Cecília é um ser etéreo, semelhante às nuvens do crepúsculo, à espuma do mar, ao vôo dos pássaros. E, no entanto, eu sei que os seus poemas viverão eternamente. Porque são belos.

A Beleza é entidade volátil – toca a pele e rápido se vai.

Pois isso a que nos referimos pelo nome de Deus é assim mesmo: um grande, enorme Vazio, que contém toda a Beleza do universo. Se o vaso não fosse vazio, nele não se plantariam as flores. Se o copo não fosse vazio, com ele não se beberia água. Se a boca não fosse vazia, com ela não se comeria o fruto. Se o útero não fosse vazio, nele não cresceria a vida. Se o céu não fosse vazio, nele não voariam os pássaros, nem as nuvens, nem as pipas...

E assim, me atrevendo a usar a ontologia de Riobaldo, eu posso dizer que Deus tem de existir. Tem Beleza demais no universo, e Beleza não pode ser perdida. E Deus é esse Vazio sem fim, gamela infinita, que pelo universo vai colhendo e ajuntando toda a Beleza que há, garantindo que nada se perderá, dizendo que tudo o que se amou e se perdeu haverá de voltar, se repetirá de novo. Deus existe para tranqüilizar a saudade.

Posso então responder à pergunta que me fizeram. É claro que acredito em Deus, do jeito como acredito nas cores do crepúsculo, do jeito como acre dito no perfume da murta, do jeito como acredito na beleza da sonata, do jeito como acredito na alegria da criança que brinca, do jeito como acredito na beleza do olhar que me contempla em silêncio. Tudo tão frágil, tão inexistente, mas me faz chorar. E se me faz chorar, é sagrado. É um pedaço de Deus... Dizia o poeta Valéry: Que seria de nós sem o socorro daquilo que não existe?

(Alves, Rubem. Teologia do Cotidiano. Olho D’Água)

07 julho, 2009

Mau Gosto

Gosto é como cotovelo, cada qual tem o seu. Desse modo, delimitar a margem a partir da qual certa coisa pode ser considerada de bom ou de mau gosto não é apenas difícil, mas até incorreto, uma vez que a subjetividade é senhora dessas questões.

No entanto, nós humanos não teríamos chegado até aqui se, apesar de tudo, não fosse possível estabelecer, com algum acerto, parâmetros gerais de bom senso.

O que se passou na mente do sujeito que criou este brinquedo nós nunca saberemos, mas o certo é que boa parcela da humanidade reconhecerá que isto foi um desastre:



http://www.youtube.com/watch?v=ggy50aunhmU

Destaque para a música do Queen, "tocada" de maneira hilária!

Update:
Descobri outro escorregador fantástico. Reclamaram do anterior, então fizeram um novo, mais "adequado". Saiu este, modelo "elefantinho de hemorróidas" (alguns também batizaram de "elefanta no cio"):