O mosquito da dengue é um velho conhecido dos brasileiros, desde os tempos em que seu portifólio de doenças era restrito apenas à dengue e à febre amarela. Seu nome científico, contudo, gera algumas dúvidas tanto na grafia complicada quanto na pronúncia. A grafia correta é "Aedes aegypti" (com "A" maiúsculo no primeiro nome e “a” minúsculo no segundo, como determina a nomenclatura taxonômica). Quanto à pronúncia, sempre houve a preferência em se dizer /aédis/ /egípti/. Ocorre que, recentemente, a mídia tem preferido dizer /édis/ /egípti/. O que terá acontecido com o primeiro “a”?
Para explicar isso, é
preciso ter em mente que a mídia está “tentando” falar corretamente ao buscar a
pronúncia latina do nome, uma vez que os nomes científicos são formados em latim ou são latinizados. Assim, como em latim o grafema “æ” (a+e) tradicionalmente se pronuncia "e" (aberto, como em “taenia solium”),
passaram a pronunciar /édis/ da mesma forma como sempre fizeram com o /egípti/,
só que, acredito eu, de maneira inadequada.
Mas qual é o problema? O erro é presumir que o nome "Aedes aegypti" seja
inteiramente de origem latina. Ainda que se trate de um nome “latinizado”, não
é inteiramente latino. Se fosse, não haveria problema em dizer-se /édis/
/egípti/.
O nome científico
do mosquito tem uma parte latina, “aegypti”, que significa “do Egito” e se
pronuncia mesmo /egípti/. Porém, a primeira parte dele não vem do latino “aedes”
– que significaria “casa” –, mas sim deriva do grego “edus”, que significa “doce”,
“agradável”.
Assim, a parte de origem
grega, “Aedes”, significa “desagradável”, “odioso”, “nojento” e, diversamente
do latim, tem o “a” pronunciado claramente – é até habitual marcar o “e” com um traço ou trema: Aëdes. Esse “a”
do “Aedes” é um prefixo grego que dá ideia de negação – como acontece em “amoral”, “ateu” ou “afônico”. A pronúncia que
destaca o “a” do “e” deixa clara essa negação. Se esse “a” não for pronunciado,
o que seria “desagradável” passa a ser “agradável”, e tal adjetivo não pode ser
aplicado a esse inseto. Da mesma forma, se quisermos nos ater ao latim, ao dizer /édis/, o mosquito deixa de ser o “odioso do Egito” e se
transforma em algo como “casa do Egito”.
Se esses argumentos não são suficientes, podemos recorrer ao próprio latim para abonar a pronúncia /aédis/. É que, se no latim científico – baseado na pronúncia tradicional medieval – dizemos "e" para o grafema "ae", o mesmo não ocorre com a pronúncia restaurada do latim clássico – o latim dos tempos de Cícero e Virgílio –, em que se pronuncia /aédis/.
Dessa forma, creio que a grande maioria da mídia tem sido infeliz ao fazer essa “correção”, pois me parece mais adequado pronunciar /aédis/ /egípti/, como todos faziam antes.
Dessa forma, creio que a grande maioria da mídia tem sido infeliz ao fazer essa “correção”, pois me parece mais adequado pronunciar /aédis/ /egípti/, como todos faziam antes.