14 fevereiro, 2010

Wal-Mart

Quem frequenta as lojas Bompreço e Hiper Bompreço aqui no Nordeste talvez ainda não tenha percebido algumas de suas estratégias capitalistas superdiscretas: supérfluos à frente, brinquedos e doces na altura das crianças, mais supérfluos na imensa fila única (para que você fique bastante tempo olhando), promoções de chamariz que são compensadas nos altos preços dos demais produtos, cartão de crédito próprio com parcelamento sem juros, etc.

Só para se ter uma idéia
da engenhosidade
de suas táticas, a rede utiliza programas avançados de computador que, analisando criticamente informações de compras (coletadas por meio dos cartões "Bomclube", segundo alguns), estabelecem vários perfis de consumidores, e reorganizam as gôndolas, as decorações e até mesmo a iluminação para realçar ao máximo o consumo (funciona assim: você entra para comprar uma caneta e sai de lá carregado de compras).

Até aí, tudo bem, todos os que podem, fazem o mesmo... Quem está no mercado deve lançar mão de toda gama de recursos que a ciência da administração oferece. Mas precisamos conhecer um pouco mais a história da Wal-Mart (empresa dona do Bompreço desde 2004), para ter uma visão bem mais ampla da sujeira que a empresa e seus donos espalham pelo mundo.

O texto abaixo, de
Pablo Villaça, sintetiza alguns fatos sobre a rede multinacional de supermercados, a partir do documentário
"Wal-Mart: O Alto Custo do Baixo Preço" (2005), de Robert Greenwald:

"1) Sempre que uma nova unidade Wal-Mart é inaugurada em uma cidade de porte médio, a maior parte do comércio local é destruída em questão de dois ou três anos;

2) O salário pago aos empregados Wal-Mart é tão baixo que é considerado abaixo do nível de pobreza nos Estados Unidos;

3) Os gerentes da Wal-Mart recebem instruções para que seus funcionários trabalhem horas extras sem remuneração, sob pena de perderem o emprego - e são instruídos, também, a alterarem as horas trabalhadas no computador da empresa;

4) As mulheres recebem bem menos do que os homens e enfrentam imensas dificuldades para serem promovidas;

5) Para não ter que arcar com os custos de benefícios para os funcionários, a política da Wal-Mart é instruí-los a pedir auxílio médico, de alimentação e moradia ao Estado, deixando que o dinheiro do contribuinte pague as obrigações que deveriam ser bancadas pela empresa;

6) Os executivos da Wal-Mart chegam a gastar milhões de dólares anualmente para impedir que seus funcionários se sindicalizem - e não hesitam em demitir aqueles que pareçam minimamente interessados em lutar por seus direitos;

7) Com uma freqüência alarmante, lojas Wal-Mart são abertas com o auxílio de subsídios de governos e prefeituras, que deixam de investir em infra-estrutura, saúde e educação a fim de viabilizarem a entrada da empresa na economia local. Em troca, a Wal-Mart teoricamente se comprometeria a investir na comunidade. Na prática, isto não acontece: além de não investir um centavo na economia local, a nova loja geralmente é fechada quando o prazo do subsídio está para vencer e ela teria que passar a pagar 100% de impostos. Em muitos casos, uma nova filial é aberta no limite externo da cidade (para evitar as obrigações de impostos, etc.) e o imenso prédio antigo é deixado abandonado - e, como estes são enormes, é dificílimo encontrar quem os alugue ou compre. Atualmente, há 26.699.678 metros quadrados ocupados por lojas Wal-Mart abandonadas nos Estados Unidos;

8) A Wal-Mart já foi obrigada a pagar milhões de dólares em multas, nos últimos anos, por violações a diversas leis ambientais;

9) A Wal-Mart foi condenada a pagar outros tantos milhões de dólares por empregar imigrantes ilegais em suas lojas, pagando uma miséria a estes "funcionários";

10) As fábricas da Wal-Mart na China oferecem condições desumanas de trabalho aos seus funcionários, além de obrigá-los a pagar aluguel pelos dormitórios que oferecem aos empregados (mesmo que estes não residam ali). Além disso, os funcionários são obrigados pela gerência a mentir quando ocorrem as inspeções periódicas feitas para avaliar as condições de trabalho. E a remuneração? Menos de 3 dólares por dia (incluindo as várias horas extras diárias);

11) Por incrível que pareça, as condições são ainda piores nas fábricas de Bangladesh, onde as funcionárias são agredidas fisicamente por seus supervisores;

12) Depois de visitar várias fábricas da Wal-Mart nos países subdesenvolvidos (ou, como aprendi na minha época, de Terceiro Mundo), o responsável por supervisionar as condições de trabalho da empresa foi demitido justamente por relatar os absurdos que testemunhara;

13) Os cinco integrantes da família Walton (o fundador da Wal-Mart foi Sam Walton) possuem, juntos, um patrimônio acumulado de 102 bilhões de dólares: a viúva de Sam Walton tem 18 bilhões e cada um de seus quatro filhos possui, individualmente, mais de 18 bilhões de dólares. (São a família mais rica dos EUA.) Ainda assim, a empresa insiste em cortar verbas, promove um aumento anual de apenas 4% para seus funcionários e, como já dito, não oferece sequer um plano de saúde decente aos empregados;

14) Embora tenham investido centenas de milhões de dólares para construir uma mansão subterrânea depois do 11 de Setembro (o que permitiria que sobrevivessem ao "Apocalipse"), os membros da família Walton doaram menos de 1% de seu patrimônio para a caridade. A título de comparação, Bill Gates doou 58%;

15) Apesar de terem conduzido uma pesquisa interna que apontou que 80% dos crimes cometidos em suas lojas ocorriam no estacionamento, os executivos da Wal-Mart não investiram praticamente nada na segurança destes locais. O resultado é que centenas de crimes (de roubo de carros a estupros, passando por assassinatos, assaltos e tiroteios) ocorreram nos estacionamentos das lojas Wal-Mart apenas nos sete primeiros meses de 2005. Em outras palavras: a segurança dos clientes não parece ser prioridade para a loja.

O interessante, entre outras coisas, é que Greenwald busca entrevistar principalmente pessoas de tendência conservadora, republicana, a fim de evitar acusações de que seu documentário é mais uma "propaganda liberal" contra as corporações. As vítimas da empresa Wal-Mart vistas no filme são habitantes de Estados predominantemente de direita que exibem, orgulhosos, a bandeira norte-americana em seus jardins e a foto de Bush nas paredes de suas salas. É uma decisão no mínimo bastante estratégica (e inteligente) de Greenwald.

A propósito: há 152 unidades Wal-Mart no Brasil.

Evite-as."


Esse documentário é assustador e merece ser visto e divulgado, mesmo que
5 anos já tenham se passado desde o seu lançamento. Duvido que as práticas tenham sido mudadas, se é que não foram "aprimoradas". Enfim, o documentário é excepcional e eu o recomendo enfaticamente.

Download do filme (.avi, legendado) aqui: Megaupload


Update: aproveite para assistir também ao documentário de 20 min "A História das coisas" ("The Story of Stuff"), no qual Annie Leonard explica como funciona o sistema linear do capitalismo, e como isso prejudica o planeta: Parte 01, Parte 02.

2 comentários:

  1. Oportuna crítica, incontestável verdade, lamentável fato...
    As cidades agraciadas com filiais da wal-Mart, ficam exauridas, visto que, a economia livre de mercado utilizada de modo desenfreado e sem intervenção reguladora, pode se tornar um grande mal. Manobras são utilizadas (aviamento) para levar o consumidor a acreditar que está levando “vantagem,” assim sendo, muitos gastam além do que podem pagar.
    Seus funcionários são explorados ao extremo (desumanamente), garantias constitucionais conquistadas a duras penas, são desrespeitadas, suas lojas se transformam em verdadeiras senzalas brancas.
    Márcio é com profundo pesar que teço este breve comentário, tal barbárie acontece desnudamente, sem que ninguém, salvo, raras exceções, tome as devidas providências, sabemos que tais empresas lideram vários rankings, dentre eles, reclamações nas searas: trabalhistas, relações de consumo, juizados especiais de defesa do consumidor, procon, etc.
    Como diria um desavisado, é a “lei” da procura e oferta, (princípio da livre concorrência), eu digo, sem medo de errar, é a “lei do mais forte, e é assim que funciona. Mudanças? Doce ilusão... Ainda bem que pessoas do seu quilate, têm a coragem de abordar publicamente tal questão, muitas outras, enganadas pela manipulação da opinião pública, e, utilizadas como massas de manobra, são levadas a defender esse tipo de empreendimento, as quais acabam dando o pescoço à canga, e o mais grave, são maioria.
    Obrigada pela oportunidade.
    Grande beijo!

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  2. Na mosca, Vida! E foi vc que me deu o toque sobre a iluminação e o fácil acesso das crianças aos brinquedos e doces. Obrigado!
    Não perca o documentário, por favor!!!

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Eu agradeço o comentário!