29 abril, 2009

Poema do dia


(Foto: Laura Sina)

Despertar

Certo dia, um homem foi tomado, de súbito, por uma consciência assustadora.
Nunca desvendara os segredos do universo,
Nunca soubera tanto sobre si mesmo,
Nunca compreendera tão bem as demais pessoas como naquele instante.

Sentiu um avassalador desejo de revelar ao mundo suas novas impressões,
Mas explodiu antes que conseguisse:
A nova capacidade não lhe cabia no corpo,
E sua alma não era continente como a de uma criança.


2 comentários:

  1. Olá, nobre Márcio!

    Em tempos de narcisismo acadêmico com pretensões epistemológicas totalizantes, este seu poema me fez lembrar de um texto muito interessante que trabalhei com meus alunos nos meus tempos de professor do Ensino Fundamental, chamado "O homem que se endereçou", do Ignácio de Loyola Brandão.

    Mais uma vez, agradeço pelos belos insights que me proporciona! Segue o referido texto:

    “Apanhou o envelope e na sua letra cuidadosa subscritou a si mesmo: Narciso, rua Treze, nº 21. Passou cola nas bordas do papel, mergulhou no envelope e fechou-se. Horas mais tarde a empregada colocou-o no correio. Um dia depois sentiu-se na mala do carteiro. Diante de uma casa, percebeu que o funcionário tinha parado indeciso, consultara o envelope e prosseguira. Voltou ao DCT, foi colocado numa prateleira.Dias depois, um novo carteiro procurou seu endereço. Não achou, devia ter saído algo errado. A carta voltou à prateleira, no meio de muitas outras, amareladas, empoeiradas. Sentiu, então, com terror, que a carta se extraviara. E Narciso nunca mais encontrou a si mesmo.”

    Ignácio de Loyola Brandão - O homem que se endereçou

    P.S.: Como seria bom se todos os Narcisos se perdessem e nunca mais se achassem!

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  2. Nossa! Muito bom esse texto de Loyola Brandão! Adorei!

    ***

    Nenhum de nós pode abraçar o mundo, não é? A fragmentação da vida e da existência, por mais cruel que seja, é indispensável. A onisciência ainda não está disponível aos mortais.

    Abraço!

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Eu agradeço o comentário!