10 agosto, 2009

Ainda Ontem

Charles Aznavour é um dos grandes nomes da música mundial. Se considerarmos apenas a França, certamente ele põe no bolso os seus colegas compatriotas, tanto pela interpretação quanto pela composição. Além de possuir uma poderosa voz de tenor, ele compôs cerca de 850 canções, muitas delas com versões em vários idiomas.

Uma das que eu mais aprecio é “Hier Encore”, de 1964, muito bela e triste. A letra registra as tolices de juventude e as esperanças perdidas na passagem veloz do tempo, enquanto a melodia triste acompanha tal amargura com adequação absoluta. Só quem viveu o suficiente como ele pode expressar-se tão bem sobre esse tema.

No vídeo abaixo, ele canta com duas mulheres (suas filhas, segundo o título no YouTube), numa interpretação belíssima dos três. (Será que são mesmo suas filhas? Como um sujeito feio gerou duas gatas como essas? Se for isso mesmo, por certo puxaram à mãe...)


http://www.youtube.com/watch?v=gkc9FWxBl2k

Como tio Márcio é muito bonzinho, entrega logo a letra e tradução no mole para todos os seus dois leitores (a tradução abaixo é ligeiramente diferente da legenda do vídeo, que não é das melhores).

Au revoir, mes chers amis!

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Hier Encore
Ainda Ontem

Hier encore, j'avais vingt ans
Ainda ontem, eu tinha vinte anos
Je carresais le temps et jouais de la vie
Acariciava o tempo e brincava de viver
Comme on joue de l'amour et je vivais la nuit
Como se brinca de amor e eu vivia a noite
Sans compter sur mes jours qui fuyaient dans le temps
Sem considerar meus dias que escorriam pelo tempo

J'ai fait tant de projet qui sont restés en l'air
Fiz tantos projetos que se dissiparam no ar
J'ai fondé tant d'espoirs qui se sont envolés
Alimentei tantas esperanças que se desvaneceram
Que je reste perdu ne sachant ou aller
Que permaneço perdido sem saber aonde ir
Les yeux cherchant le ciel, mais le coeur mis en terre
Os olhos vasculhando o Céu, mas o coração preso à Terra

Hier encore j'avais vingt ans
Ainda ontem eu tinha vinte anos
Je gaspillais le temps en croyant l'arrêter
Desperdiçava o tempo acreditando que o detinha
Et pour le retenir, même le devancer,
E para retê-lo, e até ultrapassá-lo,
Je n'ai fait que courrir et me suis essouflé
Não fiz outra coisa senão correr e acabar cansado

Ignorant le passé, conjuguant au futur
Ignorando o passado, conjeturando sobre o futuro
Je précédais de moi toute conversation
Eu direcionava a mim toda conversa
Et donnais mon avis que je voulais le bon
E opinava sobre o que eu achava ser bom
Pour critiquer le monde avec désinvolture
Por criticar o mundo com desenvoltura

Hier encore j'avais vingt ans
Ainda ontem eu tinha vinte anos
Mais j'ai perdu mon temps a faire des folies
Mas perdi meu tempo a cometer loucuras
Qui ne me laissent au fond rien de vraiment précis
O que não me deixa, no fundo, nada de realmente concreto
Que quelques rides au front et la peur de l'ennui
Exceto algumas rugas na fronte e o medo do tédio

Car mes amours sont mortes avant que d'exister
Porque meus amores morreram antes de existir
Mes amis sont partis et ne reviendront pas
Meus amigos partiram e não mais retornarão
Par ma faute j'ai fait le vide autour de moi
Por minha culpa criei o vazio ao meu redor
Et j'ai gâché ma vie et mes jeunes années
E gastei minha vida e meus anos de juventude

Du meilleur et du pire en jetant le meilleur
Do melhor e do pior, desprezando o melhor,
J'ai figé mes sourires et j'ai glacé mes pleurs
Imobilizei meus sorrisos e congelei meus prantos
Où sont-ils à present, à present, mes vingts ans?
Onde estão agora meus vinte anos?

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