O post anterior me fez perceber quão duvidosa é a informação que existe na internet. Bem, que o conteúdo da internet não é confiável todos já sabíamos há muito tempo. Mas eu ainda não tinha me dado conta da dimensão do problema.
Sucedeu que eu pesquisei a letra da música “Hier Encore” e, embora não conheça francês, percebi imediatamente que o texto que encontrei não batia inteiramente com a sonoridade das palavras. Assim, “je voulais le bon” aparecia na letra “je pensais le bon”; e “pleurs” estava escrito “peurs”.
Então, obviamente, fui procurar em outras fontes antes de postar, mas qual não foi a minha surpresa ao constatar que 100% dos sites em língua portuguesa continham exatamente a mesma letra e a mesma tradução, incluindo os mesmos erros. Inseri “pleur” (palavra correta) na minha consulta e o Google retornou apenas uma página, em francês, de onde extraí o texto correto que postei.
Ficou claro que alguém certa vez publicou a letra e a tradução e estas foram copiadas ad infinitum pelos demais sites. Eis o problema: nem todos têm o cuidado de conferir a informação antes de passá-la adiante. Não é por outro motivo que circulam pela internet lendas urbanas e textos com a autoria incorreta.
Assim, se o fato ocorreu realmente ou se o texto é mesmo de Luís Fernando Veríssimo ou de Arnaldo Jabor, não importa, contanto que cause essa impressão. E na maior parte das vezes as pessoas crêem mesmo no que lêem, talvez por ingenuidade diante da nova mídia, ou por falta de reflexão.
Tal aberração se deve à facilidade do fluxo de dados numa época em que basta a conjunção das teclas “ctrl+c” e “ctrl+v” para trasladar informações, o que acarreta um mundo baseado muito mais em quantidade do que em qualidade. Assim, a informação contida na internet é muito fácil, mas igualmente fácil é a sua má qualidade.
Está ficando cada vez mais difícil separar o joio do trigo nesse ambiente tão vasto. Trata-se de uma “democracia” muito útil, mas de efeitos colaterais venenosos, uma vez que todos têm a palavra e dizem o que querem protegidos pelo manto do anonimato ou ancorados na pressa, na preguiça e na irresponsabilidade.
Por menos imparciais que sejam as informações das revistas e jornais da mídia impressa, nós pelo menos podemos confiar na sua veracidade até certo ponto, pois o que se costuma manipular é o colorido ou o grau de exposição, e não os fatos em si e sua real existência (falo exclusivamente de acontecimentos, e não do discurso político ou ideológico vertido nesses meios).
Não estamos longe da época em que tudo será previamente suspeito, pois nada estará fora da rede... Nesses tempos a propriedade intelectual será ainda mais abstrata e volátil. Caminhamos para uma era de supremacia da ficção em detrimento do fato, do plágio em detrimento da autoria, do adjetivo em detrimento do substantivo.
Não que a sociedade não possa se adaptar aos novos paradigmas. O perigo é que as mudanças têm sido mais rápidas do que a nossa capacidade de adaptação.
Sucedeu que eu pesquisei a letra da música “Hier Encore” e, embora não conheça francês, percebi imediatamente que o texto que encontrei não batia inteiramente com a sonoridade das palavras. Assim, “je voulais le bon” aparecia na letra “je pensais le bon”; e “pleurs” estava escrito “peurs”.
Então, obviamente, fui procurar em outras fontes antes de postar, mas qual não foi a minha surpresa ao constatar que 100% dos sites em língua portuguesa continham exatamente a mesma letra e a mesma tradução, incluindo os mesmos erros. Inseri “pleur” (palavra correta) na minha consulta e o Google retornou apenas uma página, em francês, de onde extraí o texto correto que postei.
Ficou claro que alguém certa vez publicou a letra e a tradução e estas foram copiadas ad infinitum pelos demais sites. Eis o problema: nem todos têm o cuidado de conferir a informação antes de passá-la adiante. Não é por outro motivo que circulam pela internet lendas urbanas e textos com a autoria incorreta.
Assim, se o fato ocorreu realmente ou se o texto é mesmo de Luís Fernando Veríssimo ou de Arnaldo Jabor, não importa, contanto que cause essa impressão. E na maior parte das vezes as pessoas crêem mesmo no que lêem, talvez por ingenuidade diante da nova mídia, ou por falta de reflexão.
Tal aberração se deve à facilidade do fluxo de dados numa época em que basta a conjunção das teclas “ctrl+c” e “ctrl+v” para trasladar informações, o que acarreta um mundo baseado muito mais em quantidade do que em qualidade. Assim, a informação contida na internet é muito fácil, mas igualmente fácil é a sua má qualidade.
Está ficando cada vez mais difícil separar o joio do trigo nesse ambiente tão vasto. Trata-se de uma “democracia” muito útil, mas de efeitos colaterais venenosos, uma vez que todos têm a palavra e dizem o que querem protegidos pelo manto do anonimato ou ancorados na pressa, na preguiça e na irresponsabilidade.
Por menos imparciais que sejam as informações das revistas e jornais da mídia impressa, nós pelo menos podemos confiar na sua veracidade até certo ponto, pois o que se costuma manipular é o colorido ou o grau de exposição, e não os fatos em si e sua real existência (falo exclusivamente de acontecimentos, e não do discurso político ou ideológico vertido nesses meios).
Não estamos longe da época em que tudo será previamente suspeito, pois nada estará fora da rede... Nesses tempos a propriedade intelectual será ainda mais abstrata e volátil. Caminhamos para uma era de supremacia da ficção em detrimento do fato, do plágio em detrimento da autoria, do adjetivo em detrimento do substantivo.
Não que a sociedade não possa se adaptar aos novos paradigmas. O perigo é que as mudanças têm sido mais rápidas do que a nossa capacidade de adaptação.
Negão, eu tinha sacado algo de "diferente" no que se dizia (o que era cantado) em relação que estava escrito. Como eu somente estudei um ano de língua francesa, não me atrevi a dar um palpite sequer, pois corria o risco de dizer besteira!(rsrsrsrsrs)
ResponderExcluirMas ainda bem qua as coisas se resolveram!
Poxa, que texto bem escrito, cara! Já sei... além de crítico de cinema, você também é jornalista free lancer!