10 agosto, 2009

O antro da informção fácil

O post anterior me fez perceber quão duvidosa é a informação que existe na internet. Bem, que o conteúdo da internet não é confiável todos já sabíamos há muito tempo. Mas eu ainda não tinha me dado conta da dimensão do problema.

Sucedeu que eu pesquisei a letra da música “Hier Encore” e, embora não conheça francês, percebi imediatamente que o texto que encontrei não batia inteiramente com a sonoridade das palavras. Assim, “je voulais le bon” aparecia na letra “je pensais le bon”; e “pleurs” estava escrito “peurs”.

Então, obviamente, fui procurar em outras fontes antes de postar, mas qual não foi a minha surpresa ao constatar que 100% dos sites em língua portuguesa continham exatamente a mesma letra e a mesma tradução, incluindo os mesmos erros. Inseri “pleur” (palavra correta) na minha consulta e o Google retornou apenas uma página, em francês, de onde extraí o texto correto que postei.

Ficou claro que alguém certa vez publicou a letra e a tradução e estas foram copiadas ad infinitum pelos demais sites. Eis o problema: nem todos têm o cuidado de conferir a informação antes de passá-la adiante. Não é por outro motivo que circulam pela internet lendas urbanas e textos com a autoria incorreta.

Assim, se o fato ocorreu realmente ou se o texto é mesmo de Luís Fernando Veríssimo ou de Arnaldo Jabor, não importa, contanto que cause essa impressão. E na maior parte das vezes as pessoas crêem mesmo no que lêem, talvez por ingenuidade diante da nova mídia, ou por falta de reflexão.

Tal aberração se deve à facilidade do fluxo de dados numa época em que basta a conjunção das teclas “ctrl+c” e “ctrl+v” para trasladar informações, o que acarreta um mundo baseado muito mais em quantidade do que em qualidade. Assim, a informação contida na internet é muito fácil, mas igualmente fácil é a sua má qualidade.

Está ficando cada vez mais difícil separar o joio do trigo nesse ambiente tão vasto. Trata-se de uma “democracia” muito útil, mas de efeitos colaterais venenosos, uma vez que todos têm a palavra e dizem o que querem protegidos pelo manto do anonimato ou ancorados na pressa, na preguiça e na irresponsabilidade.

Por menos imparciais que sejam as informações das revistas e jornais da mídia impressa, nós pelo menos podemos confiar na sua veracidade até certo ponto, pois o que se costuma manipular é o colorido ou o grau de exposição, e não os fatos em si e sua real existência (falo exclusivamente de acontecimentos, e não do discurso político ou ideológico vertido nesses meios).

Não estamos longe da época em que tudo será previamente suspeito, pois nada estará fora da rede... Nesses tempos a propriedade intelectual será ainda mais abstrata e volátil. Caminhamos para uma era de supremacia da ficção em detrimento do fato, do plágio em detrimento da autoria, do adjetivo em detrimento do substantivo.

Não que a sociedade não possa se adaptar aos novos paradigmas. O perigo é que as mudanças têm sido mais rápidas do que a nossa capacidade de adaptação.

Um comentário:

  1. Negão, eu tinha sacado algo de "diferente" no que se dizia (o que era cantado) em relação que estava escrito. Como eu somente estudei um ano de língua francesa, não me atrevi a dar um palpite sequer, pois corria o risco de dizer besteira!(rsrsrsrsrs)

    Mas ainda bem qua as coisas se resolveram!

    Poxa, que texto bem escrito, cara! Já sei... além de crítico de cinema, você também é jornalista free lancer!

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Eu agradeço o comentário!