Hoje, na verdade, são dois, de dois grandes poetas. É bom que se leia na ordem apresentada.
O adormecido do vale
(Arthur Rimbaud)
É um canto de verdura onde um riacho canta
Ligando loucamente às ervas farrapos baios
Ou de prata; onde o sol, da montanha que encanta,
Reluz: é um pequeno vale que espuma de raios.
Um soldado jovem, boca aberta, cabeça nua,
E a nuca que o fresco agrião azul envolve,
Dorme; sob uma nuvem, deitado na grama crua,
Pálido no seu leito verde onde a luz chove.
Os pés nas flores, ele dorme. Sorrindo como
Sorriria uma criança doente, está no sono:
Natureza, embala-o bem quente: ele tem frio.
Os perfumes não agitam suas narinas;
Ele dorme ao sol, a mão sobre o peito
Tranquilo. Tem dois buracos vermelhos no lado direito.
O menino da sua mãe
(Fernando Pessoa)
No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado-
Duas, de lado a lado-,
Jaz morto, e arrefece.
Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.
Tão jovem! Que jovem era!
(agora que idade tem?)
Filho unico, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
“O menino de sua mãe.”
Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lhe a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.
De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço… deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.
Lá longe, em casa, há a prece:
“Que volte cedo, e bem!”
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto e apodrece
O menino da sua mãe
(Fernando Pessoa)
No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado-
Duas, de lado a lado-,
Jaz morto, e arrefece.
Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.
Tão jovem! Que jovem era!
(agora que idade tem?)
Filho unico, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
“O menino de sua mãe.”
Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lhe a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.
De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço… deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.
Lá longe, em casa, há a prece:
“Que volte cedo, e bem!”
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto e apodrece
O menino da sua mãe
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